sábado, 18 de junho de 2011

A simbologia do corpo - Fígado

O fígado - Caved dbk (daleth – beit – caph) - é um termo que significa também “peso, gravidade, riqueza, poder...”. Exprime essencialmente a sede do Poder divino, a da Sua Glória, tão pesada que quando ela penetrava antigamente a tenda da reunião dos hebreus no Sinai, nenhum homem podia entrar nesse recinto.

O fígado é o lugar do corpo onde se enceleira a luz do comprido.

E, quando “tudo se cumpriu” (Jo, XIX:30), o fígado torna-se pesado da riqueza de hwhy e é a Ressurreição, a passagem pela “Porta dos Deuses”.

O termo Caved dbk tem como valor 20 + 02 + 04 = 26, que é o número sagrado de hwhy. De valor e potência iguais aos do NOME, o fígado é chamado a enriquecer-se com o NOME, a adquirir a totalidade das suas energias. Quando não enchemos o fígado com essa riqueza, nos o tornamos pesado de alimentos físicos ou psíquicos, que constituem outros tantos entraves para a sua realização.

Toda emoção: cólera, medo, ciúme, etc., nos leva a “roer o fígado”.

Jejuemos e oremos, e a Glória divina penetrará. O jejum, seja ele da alimentação física ou do pensamento, deve ser imperativamente acompanhado da oração, senão ele pode abrir o fígado à invasão das forças espirituais diabólicas, enquanto nem tudo tiver sido realizado e enquanto Satanás ainda for o senhor em algum lugar.

Então a sorte desse homem é ainda pior que a que ele conhecia anteriormente” (Lc, XI:25-26).

Sobrecarregar o nosso psiquismo pesado com as preocupações ou com as penas – assim como com as alegrias! -, as quais dão o peso que deveria ser dado à luz divina, é fechar a porta a essa luz e não dar nenhuma possibilidade de transmutação para as energias, que assim são postas em jogo.

O meu jugo é doce e o meu fardo é leve” (Mt XI:30), diz Cristo, pois a mais dura provação carrega em si, na perspectiva dessa transformação, o seu peso de realização.

Toda doença carrega em si o seu germe de cura.

No inicio, ela é uma energia pervertida que pede para ser convertida em luz, nossa medicina ocidental só busca a cura no exterior do Homem. As medicinas que obedecem à Tradição, entre as quais a acupuntura chinesa, e que repõem em lugar harmonioso as energias desorganizadas, não apenas buscam a cura no Homem, mas levam-no a interrogar-se sobre a linguagem da sua doença.

O fígado (do latim fícus, “figueira”) tem certamente uma analogia com essa árvore. A figueira aparece muitas vezes nos nossos textos bíblicos, mas por 03 vezes, em circunstancias que vão clarear esse assunto:

v No Gênesis, depois da queda, Adão e Eva “cosem uma folha de figueira e com ela fazem cintos para si” (Gn III:7).

O versículo pode muito bem ser lido dessa maneira: “Fazem crscer uma escalada de desejo e fazem para si (trabalham para si mesmos, e não mais para Deus) exteriores a eles. Pois a mesma palavra hebraica Teemah hnat designa a “figueira” e o “desejo”; a mesma palavra hlx Aleh designa a “folha” e a “escalada”.

A palavra “cintos” – Hagaroth trgh – é então posta em aposição a “eles”, Adão e Eva, e qualifica o retorno que o Homem conhece depois da queda, de que falarmos e de que teremos de falar novamente a respeito da “carne” – rwb. O Homem torna-se “estranho” a si mesmo, da raiz Rrg Guer que está no centro do termo “cinto”.

v Nos Evangelhos: “Cristo tem fome. Percebe ao longe uma frondosa figueira. Ele vai ver se ai encontra alguma coisa, mas só encontra folhas. Não era tempo dos figos. Então, Ele diz à figueira: que ninguém nunca coma do teu fruto. E a figueira logo secou até as raízes” (Mc, XI: 12 e 20).

Simbolizando a figueira o desejo, e as folhas o impulso do desejo, seu fruto é a sua realização. Aquele que não impulsiona o seu desejo para Deus, mas para o mundo, obedece à lei das estações: “Enquanto houver dias (tempos), a semeadura e a messe, o verão e o inverno não cessarão”, prometeu Deus a Noé (Gn, VIII:22). O que não impulsiona o seu desejo para Deus dá o seu fruto em qualquer estação. Deus maldiz a figueira do mundo.

v Cristo compara, enfim, os acontecimentos do fim dos tempos – ou fim dos dias – à evolução da figueira: “Quando ela começa a desabrochar, conheceis que está perto o estio. Assim também, quando virdes que acontecem essas coisas, sabeis que está próximo o reino de Deus” (Lc, XXI:30 e 31).

Na confluência dessas três narrativas, a figueira aparece ligada ontologicamente ao desejo que o Homem tem do Esposo divino, e, portanto, à sua realização no Yod.

O simbolismo do fígado-ficus-figueira encontra aí sua confirmação: é o lugar da subida das energias: energias psíquicas, e é a “maldição”, energias ontológicas – desejo, amor de Deus -; e o fígado dá o seu fruto Tov bve, realização. Quando tudo está realizado, o Yod nasce.

Entre os chineses, o fígado é o “escudo que serve para proteger”, ele se liga nesse sentido à letra hebraica Teth e, cujo grafismo é o de um escudo desenhado por uma serpente que morde a própria cauda. Essa letra simboliza as energias realizadas, “escudadas”. Tem como valor o 09, símbolo da perfeição e preside a palavra Tov bve. O Teth e, 09, precede o Yod, 10, é o escudo diante da Espada.

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